Antonio Padre, Barra de Santana e a Sesquicentenária Festa de Nossa Senhora Sant’Anna e São Joaquim

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Celebrar a Festa de Nossa Senhora Sant’Anna e São Joaquim é celebrar a vida da comunidade Barrasantanense. É também a expressão vívida da cultura do seu povo, expressando a identidade e habilidades de sua gente.

Os momentos de celebração das novenas, nas quermesses, da Santa Missa e, especialmente no ápice da festa com a tradicional e esplendorosa procissão pelas principais ruas da cidade, são oportunidades em que os fiéis católicos reafirmam sua fé em Deus e nos avós de Jesus, Nossa Senhora Sant´Anna e São Joaquim. Essa celebração torna-se um momento significativo no processo de evangelização.

Ao falar sobre a Sesquincentenária e Tradicional Festa, é inevitável mencionar o papel fundamental de Papai “Antonio Barreto (Antonio Padre)” (in memoriam), um ilustre cidadão barrasantanense que nasceu e cresceu no Sítio Serrinha. Posteriormente, casou-se com dona Luzia Barreto, e como fruto dessa união tiveram nove filhos. Na década de 70, quando a Igreja de Sant´Anna tinha o Padre Antonio Lisboa como pároco, vindo da cidade de Queimadas para celebrar as missas aos domingos, Papai assumiu a responsabilidade de organizar as novenas, realizar a manutenção e zelar pela igreja. Com o tempo, ele angariou através de recursos próprios e doação dos fiéis, um valor no qual possibilitou a construção da Casa Paroquial.

Antonio Padre desempenhou um papel de destaque por mais de 30 anos como colaborador incansável na organização e zelo da Igreja, que hoje é conhecida como Matriz de Nossa Sant’Anna e São Joaquim. Durante todo o mês que antecedia a

festa, Papai e outros colaboradores se dedicavam a buscar recursos para a realização da “Festa de Sant’Anna”. Formava-se uma comissão composta por fiéis e as doações vinham de várias regiões da Paraíba e até mesmo do estado vizinho, Pernambuco. O pavilhão da festa (grande bar que ficava no meio da rua) era construído de forma artesanal, com estrutura de madeira e coberto com lonas de caminhões, espaço esse frequentado pelas famílias barrasantanenses, romeiros e os turistas, onde sentavam-se para beber e fazer “arrematação de galetos, bodes, galinhas”, entre outros tipos de doações feitas pelos fiéis, arrecadando-se assim, recursos que contribuíam para a manutenção da igreja e despesas com os festejos. Além disso, havia à escolha da Rainha da Festa. Duas moças da sociedade local eram escolhidas para representar a beleza da festa, na maioria das vezes cada uma representava uma cor: o Vermelho e Azul; Fazendeiros e Comerciantes, ou ainda as representantes dos times paraibanos: Treze e Campinense. Ao longo dos anos, a nomenclatura variava, mas o objetivo era arrecadar recursos para manutenção da igreja e despesas dos festejos. Toda a logística de apoio, alimentação dos policiais, hospedagem e alimentação dos músicos da Banda Filarmônica da cidade de Boqueirão e toda equipe da festa, era realizada na residência de Antônio Padre e Dona Luzia.

No entanto, em 04 de dezembro de 1989, a nossa comunidade foi surpreendida com o roubo das imagens de Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora da Conceição e da Padroeira Nossa Senhora Sant’Anna. Todas por serem relíquias muito caras banhadas em ouro foram furtadas e comercializadas na cidade de Caruaru-PE. Graças aos esforços incansáveis e à colaboração de amigos, Antônio Padre conseguiu localizá- las em um antiquário na Cidade de Brejo da Madre de Deus, em Pernambuco, às imagens já estavam prontas para serem embarcadas e vendidas a colecionadores na Europa.

Após esse episódio, as imagens foram devolvidas ao seu lugar de origem, à Igreja de Sant´Anna e São Joaquim, em 4 de fevereiro de 1990. Esse capítulo de nossa história foi narrado por Antonio Padre para o poeta de nossa terra, Vadeilson Costa, que o transformou em um Cordel intitulado de “O Roubo da Padroeira”.

Atualmente, a nossa festa é celebrada de forma separada, seguindo uma sugestão de nosso Bispo Diocesano. Assim, temos a Festa de Sant’ Anna e São Joaquim como parte religiosa e a Tradicional Festa de Julho, como festa social.

Em 2023, celebraremos o marco de 150 anos das comemorações alusivas à tradição secular da Festa de Senhora Sant’Anna e São Joaquim, que é uma importante festividade em Barra de Santana. Essa celebração ganhou ainda mais destaque graças à iniciativa do Vereador Jurema Barreto, filho de Antonio Padre, que propôs um Projeto de Lei para preservar e valorizar a tradição local.

Em 8 de agosto de 2022, esse Projeto de Lei foi sancionado e se tornou a Lei Municipal Nº 422/2022, reconhecendo oficialmente a Festa de Senhora Sant’Anna e São Joaquim como Patrimônio histórico-cultural imaterial do município.

Essa conquista representa um importante passo para preservar a identidade cultural da região, resguardando as raízes históricas e culturais que permeiam essa celebração secular. A partir desse reconhecimento, a festa ganhará mais apoio e proteção, garantindo que as futuras gerações também possam apreciar e valorizar essa rica tradição.

Comemorar os 150 anos dessa festa é uma oportunidade de reafirmar os laços comunitários, enaltecer as manifestações culturais locais e fortalecer o senso de pertencimento da população de Barra de Santana. Que essa ocasião seja um momento de celebração, reflexão e união, consolidando ainda mais o valor histórico e cultural da Festa de Senhora Sant’Anna e São Joaquim.

Enfim, sempre que menciono os festejos, sou tomada pela emoção e lembro do meu Pai com muito carinho e orgulho por toda a contribuição e Amor que ele tinha por esta Cidade e pela Devoção que nutria por “Senhora Santana”(palavras dele) . Embora ele não esteja fisicamente conosco, rememoro os versos belíssimos e verdadeiros de Waldemar Berardinelli que diz:

A Terra, Mãe das árvores e das flores, Receberá o Teu corpo.

Mas o Teu cérebro não será cinza, será Luz.

Teu coração não será pó, será árvore que agasalha. Tu, que viveste repartindo Bondade e Saber, Infinitamente repartindo viverás nas folhas,

Nas flores, no vento, nas saudades.

NÃO MORRE QUEM NOS OUTROS VIVE NÃO MORRE QUEM, NOS VIVOS, VIVE!

Texto: Alcione Barreto

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